Como está impasse sobre Jericoacoara dois anos após empresária dizer ser dona de terras

  • 05/07/2025
(Foto: Reprodução)
Em julho de 2023, Iracema Correia São Tiago apresentou documentos para reivindicar terras que se sobrepõem à Vila de Jericoacoara. A demora na perícia dos documentos é atribuída à dificuldade no manuseio de documentos antigos. Confira histórico do impasse sobre Jericoacoara após empresária dizer ser dona de terras Há dois anos, a empresária Iracema Correia São Tiago apresentou ao Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) documentos para reivindicar a posse de 80% das terras da Vila de Jericoacoara, um dos principais destinos turísticos do estado. O impasse gerou um acordo extrajudicial que repassaria terrenos não ocupados da vila para a empresária. No entanto, o acordo foi suspenso há oito meses, e a situação continua em aberto enquanto duas investigações principais analisam documentos registrados em cartórios. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp Os processos de análise investigam a cadeia dominial, ou seja, a cronologia do terreno da fazenda Junco I, imóvel reivindicado pela empresária. Na escritura apresentada por Iracema, o terreno particular que pertenceria a ela contém 73,5 hectares que passam pelo que hoje é a Vila de Jericoacoara, correspondendo a 83% dos 88,2 hectares totais da vila. Antes de ser suspenso, o acordo extrajudicial conduzido pela Procuradoria-Geral do Estado do Ceará (PGE-CE) estava em fase de estudos. O objetivo era definir quais terrenos seriam desmembrados da vila para que fossem repassados a Iracema. LEIA TAMBÉM: Entenda como empresária reivindicou posse de mais de 80% das terras de Jericoacoara após 40 anos Quem é Iracema Correia São Tiago, empresária que reivindica terras da Vila de Jericoacoara ‘Quem em sã consciência não iria reivindicar’, questiona sobrinho de mulher que se diz dona de mais de 80% de Jericoacoara Entenda qual a diferença entre a vila, a cidade e o Parque Nacional de Jericoacoara Um dos termos deste acordo previa que a empresária, reconhecida como dona da propriedade, renunciasse às áreas da vila que já estivessem ocupadas por moradores ou construções, preservando também vias e acessos locais. O acordo estava sendo conduzido como uma alternativa para evitar a judicialização do conflito. No entanto, o caso começou a ser alvo de protestos de moradores e empresários de Jericoacoara a partir de outubro de 2024, ganhando repercussão nacional (relembre o caso mais abaixo na reportagem). Enquanto a perícia não é concluída, a defesa de Iracema denuncia que estabelecimentos e residências têm invadido terrenos na vila. Demora na análise dos documentos Empresária reivindica 80% da área de paraíso turístico no Ceará Arte/g1 Atualmente, são dois processos principais que buscam analisar os documentos apresentados pela defesa de Iracema Correia São Tiago, tentando esclarecer dúvidas sobre a legitimidade e o histórico do imóvel, bem como sobre as medidas do terreno que se sobrepõe à vila. Uma destas investigações é conduzida pela PGE-CE, incluindo um trabalho de diversas instituições. O segundo está sob responsabilidade do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). No processo mediado pela PGE-CE, o órgão que está à frente do processo de perícia cartorária é o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com apoio do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace). Em nota ao g1, a Procuradoria afirmou que aguarda a conclusão da perícia do Incra, que está em andamento. Oficialmente, a PGE-CE atribui a demora às condições físicas dos documentos periciados pelo Incra, com registros antigos praticamente ilegíveis. Por isso, além da consulta aos cartórios locais da região, técnicos do Incra viajaram a Brasília para buscar versões digitais da documentação e prosseguir com a análise. “No momento, o Incra segue em uma busca ampliada para trazer um laudo pericial preciso e seguro. A PGE-CE tem acompanhado esse processo na expectativa de receber o laudo e seguir com o processo nos próximos meses”, diz a nota. Outras instituições também foram notificadas pela PGE-CE após a suspensão do acordo extrajudicial, para que pudessem se manifestar e acompanhar o caso. Foram elas: Superintendência do Patrimônio da União no Ceará (SPU) Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão do Parque Nacional de Jericoacoara Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) Ministério Público Federal (MPF) A PGE-CE confirmou, também, que o processo de acordo extrajudicial continua suspenso até que todos os órgãos oficiados se manifestem. “Uma vez concluído o levantamento, a PGE-CE vai analisar todas as documentações produzidas e assegurar juridicamente cada termo do acordo a fim de resguardar as pessoas e construções que estão atualmente na Vila de Jericoacoara e nela permanecerão”, conclui a nota. Empresária reivindica posse de mais de 80% da Vila de Jericoacoara, paraíso turístico no litoral do Ceará SVM A outra investigação, feita sob responsabilidade do Ministério Público do Estado do Ceará, é realizada por meio da Promotoria de Justiça de Jijoca de Jericoacoara. Em nota ao g1, o órgão confirmou que a documentação do imóvel está em análise, sem informar uma previsão para a conclusão. O MPCE havia recomendado a suspensão do acordo extrajudicial dias antes de a PGE-CE confirmar oficialmente a pausa. O que diz a defesa de Iracema O fazendeiro José Maria Machado e a então esposa, Iracema, em foto do início dos anos 1980 Jornal Nacional/Reprodução A expectativa da família de Iracema Correia São Tiago é que a manifestação final do Incra confirme informações encontradas sobre a titularidade da empresária nas terras da área da Vila de Jericoacoara, com um desfecho considerado positivo para o acordo extrajudicial com a PGE-CE. Por meio de nota, a defesa da empresária relatou que, ainda em novembro de 2024, uma diligência solicitada pelo MPCE no Cartório de Registros de Imóveis de Acaraú comprovou a veracidade dos documentos que trazem a titularidade e os limites dos imóveis. “O Cartório não só localizou as escrituras e a planta da época da compra das fazendas na década de 1980 como demonstrou a cadeia dominial dos terrenos até a década de 1940”, diz a nota. Ainda conforme a defesa, esta diligência foi acompanhada por representantes de Iracema, da PGE-CE, do Incra, do ICMBio e do Conselho Comunitário de Jericoacoara. A representação de Iracema pontua que, pelo acordo extrajudicial, a empresária ficaria com um terço da área desocupada, sem interferir em áreas que já foram tituladas. “A sra. Iracema também renunciou expressamente a toda e qualquer indenização e ou reparação financeira eventualmente incidente em desfavor do Estado”, complementa a nota. Iracema Correia São Tiago, de 79 anos, nunca fez aparições públicas desde que o caso ganhou repercussão nacional. Em outubro de 2024, o g1 chegou a conversar com Samuel Machado, empresário e sobrinho de José Maria Machado, ex-marido de Iracema. Samuel havia sido o escolhido para dar entrevistas à imprensa em nome da família. À época, o empresário havia explicado que Iracema é uma pessoa reservada e que ficou abalada com a repercussão do caso, sem querer ver ninguém. O g1 solicitou entrevista com a empresária para esta nova reportagem. No entanto, a solicitação não foi atendida, com posicionamento da defesa divulgado por meio de nota. Preocupação sobre invasões de terra Empresária aponta preocupação sobre invasões de terras na Vila de Jericoacoara Jessyca Marques/Divulgação A demora na finalização do processo é vista com preocupação pela defesa de Iracema. Isso porque a empresária denuncia que, enquanto o impasse continua, diversas invasões de terras na vila têm sido registradas sem que as autoridades tenham adotado providências para coibir a situação. Em janeiro de 2025, Iracema denunciou ao Ministério Público do Ceará o crime de “invasão de áreas tidas como públicas por particulares”. A denúncia aponta que residências e estabelecimentos comerciais, como hotéis e pousadas, têm ampliado áreas de suas propriedades, avançando sobre terras que hoje são do Estado. Os exemplos apresentados na denúncia são da construção de muros, cercas, jardins, bosques e quadras de beach tennis nestes espaços. Outra preocupação apontada pela defesa é a aprovação de lei municipal em Jijoca de Jericoacoara que autoriza a regularização de construções irregulares, em abril deste ano. A medida permite que obras concluídas sem conformidade com a legislação municipal possam ser regularizadas, desde que atendam a critérios específicos. "As áreas que deverão retornar à Sra. Iracema e que estão sendo invadidas podem, em tese, ser regularizadas a terceiros invasores por mero ato administrativo", complementa a defesa da empresária. No dia 17 de junho, o procurador-geral de Justiça, Haley Carvalho, ingressou com ação direta de inconstitucionalidade contra a lei complementar municipal em Jericoacoara, pedindo ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) a declaração de inconstitucionalidade e a suspensão da eficácia da legislação. Na ação, o procurador-geral ressalta que a lei apresenta riscos graves ao patrimônio do município, de difícil reparação à ordem ambiental e urbanística, incluindo a extrema complexidade socioambiental e conhecidos problemas de especulação imobiliária na Vila de Jericoacoara. Conselho Comunitário continua acompanhando o caso Moradores de Jericoacoara protestam contra acordo sobre posse de áreas desocupadas da vila A conclusão da perícia do Incra também é aguardada pelo Conselho Comunitário da Vila de Jericoacoara. Representando os moradores, o Conselho questionou o acordo extrajudicial quando ficou sabendo, em outubro de 2024, sobre a possibilidade de transferências de terras para Iracema Correia São Tiago. “Com a perícia concluída, poderemos ter um direcionamento do próximo caminho a ser tomado”, respondeu o Conselho, em nota. Um dos pontos questionados pela entidade é como a propriedade que seria do ex-marido de Iracema, José Maria de Morais Machado, teria aumentado de 441,04 hectares para 924,49 hectares desde o período da compra, em 1983. Diante de estudos próprios e depoimentos de pessoas que acompanharam as transações de terra com a família, os membros do conselho defendem que houve “um intencional e comprovado acréscimo de área através de topografias e averbações indevidas e injustificadas”. A entidade informa que aguarda também a conclusão do outro processo de análise do histórico do imóvel, conduzido pelo Ministério Público. “Então, em que pese haver uma perícia do Estado, ainda que essa perícia dê algum resultado que possa direcionar a PGE, precisamos lembrar da importância da atuação do Ministério Público, que tem sua atuação e pode também tomar providências, como determinar a execução de suas próprias perícias”, diz a nota. Relembre o caso ▶️ O que a empresária reivindica? Iracema Correia São Tiago afirma que a vila fica quase toda dentro de uma de duas imensas áreas reivindicadas por ela. A mulher diz que, em 1983, seu então marido, José Maria de Morais Machado, adquiriu três terrenos na região (totalizando 714,2 hectares): um deles pertencia à companhia Florestal Sobral LTDA; o outro, a um casal que morava na região; e o terceiro, a um morador local. Os três terrenos deram origem à fazenda Junco I. ▶️ O que diz a escritura apresentada por ela? A escritura pública aponta a compra dos terrenos, com situação regularizada conforme Certificado de Cadastro de Imóvel Rural. ▶️ Quantos hectares de Jericoacoara estariam nesse terreno supostamente particular? Dos 88,2 hectares que correspondem à vila, 73,5 (ou 83% do total) estariam na área que pertenceria à empresária. ▶️ Qual é a atual situação da Vila de Jericoacoara? A vila fica no município de Jijoca de Jericoacoara e é uma área arrecadada. Isso quer dizer que ela foi incorporada ao patrimônio público, uma vez que não havia sido localizado um proprietário com escritura pública. O processo de regularização fundiária começou em 1995 e concluiu-se em outubro de 1997. No início, a vila tinha 55,3 hectares. Hoje, são 88,2. ▶️ O que a empresária pediu? Em julho de 2023, Iracema apresentou a escritura ao Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace). Inicialmente, o ofício foi entregue como uma proposta de conciliação, segundo a qual Iracema cederia ao estado as áreas que estivessem tituladas a terceiros até dezembro de 2022. Isso correspondia a 55,3 hectares (cerca de 62% da área de Jericoacoara). O restante deveria ser excluído da matrícula da vila, ou seja, devolvido à empresária. ▶️ Qual foi a contraproposta? Em resposta, o Idace propôs que toda a área da Vila de Jericoacoara continuasse dentro da matrícula do estado. A defesa de Iracema não aceitou. Em agosto de 2023, o Idace encaminhou o caso à Procuradoria-Geral do Estado do Ceará (PGE-CE), que tem atribuição legal de defender direitos e interesses sobre o patrimônio imobiliário do Ceará. Em 2024, o órgão emitiu um parecer oficial apontando a escritura como legítima. ▶️ Qual foi o parecer da Procuradoria em 2024? Segundo a PGE-CE, o estado seria obrigado a reconhecer a propriedade da empresária, comprovada por documentos oficiais. ▶️ Qual foi a decisão da PGE? A PGE tentou negociar um acordo extrajudicial, instrumento utilizado quando duas partes de um conflito negociam a resolução do problema de modo consensual e sem recorrer a um tribunal. ▶️ O que o acordo extrajudicial previa? Que a empresária renunciasse às áreas ocupadas por moradores ou construções, preservando também vias e acessos locais; por outro lado, seriam repassados a ela terrenos não ocupados e que ainda estão em nome do estado. Nenhum título chegou a ser emitido em nome de Iracema. O detalhamento sobre os terrenos que seriam desmembrados estavam em fase de estudos. ▶️ Por que o acordo extrajudicial foi suspenso? Após recomendação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) e após protestos e reuniões com moradores da vila, o acordo foi suspenso por tempo indeterminado. À época, o órgão considerou, para esta decisão, "as questões trazidas pela comunidade da Vila de Jericoacoara sobre a cadeia dominial do imóvel". ▶️ Qual é a situação atual do caso? O acordo extrajudicial segue suspenso. A PGE-CE aguarda manifestação de todos os órgãos oficiados, além de acompanhar e aguardar a perícia da documentação do imóvel por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O MPCE também conduz análise sobre os documentos do imóvel da fazenda Junco I. Não há previsões para a conclusão dos dois processos paralelos. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará:

FONTE: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2025/07/05/como-esta-impasse-sobre-jericoacoara-dois-anos-apos-empresaria-dizer-ser-dona-de-terras.ghtml


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