Policiais receberam R$ 300 mil em propina de criminosos para não patrulhar região de Fortaleza, diz MP
15/10/2025
(Foto: Reprodução) Policiais entravam em comunidade em Fortaleza para receber propina, diz MP
Uma investigação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) denuncia um esquema criminoso no qual policiais militares recebiam propina de criminosos para não realizar o patrulhamento na região da Grande Messejana, em Fortaleza. A defesa dos policiais nega os crimes (leia mais sobre o posicionamento dos advogados abaixo).
De acordo com a denúncia, os policiais entravam em comunidades não para combater o crime, mas para coletar dinheiro em troca da ausência de policiamento. Pelo menos 16 policiais militares foram presos preventivamente em uma operação realizada em julho deste ano.
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As investigações, que tiveram acesso a escutas telefônicas e trocas de mensagens autorizadas pela Justiça, apontam que o esquema funcionava principalmente na comunidade do Por do Sol e nos bairros Coaçu e Paupina. Segundo o MP, os policiais usavam as viaturas oficiais para fazer uma passagem rápida por esses locais, ficando cerca de 10 minutos – tempo suficiente para receber o valor da propina e ir embora, sem efetuar qualquer tipo de patrulhamento.
Esquema de extorsão e agilidade no pagamento
As interceptações telefônicas flagraram momentos em que os policiais militares pediam "agilidade" no repasse da quantia, referindo-se ao pagamento como "cota". O Ministério Público afirma que o esquema teve início no final de 2022.
Em um dos episódios apurados, os policiais chegaram a atirar contra traficantes que se recusaram a pagar o valor exigido. Estima-se que o grupo de PMs possa ter recebido cerca de R$ 300 mil em pagamentos ilícitos, valor que era rateado entre os envolvidos, conforme os promotores.
Prisões e acusações
A operação desencadeada pelo MPCE em julho resultou na prisão dos 16 militares, que foram afastados de suas funções por decisão judicial. Eles agora respondem na Justiça pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e colaboração com o tráfico de drogas.
O MPCE também solicitou perícia nos celulares, redes sociais e demais canais de comunicação dos acusados para dar continuidade às investigações e buscar uma resposta mais ampla do poder público sobre o caso.
Defesa contesta legalidade da prisão
O advogado de parte dos policiais presos contestou a legalidade da prisão dos agentes. Em vídeo, a defesa afirmou que os PMs "foram presos sem sequer serem ouvidos", o que demonstraria, em sua visão, "certa irregularidade" (assista ao vídeo acima).
A defesa também destacou que, passados mais de 70 dias da prisão, ainda não havia designação de audiência, e que um habeas corpus foi negado pelo Tribunal de Justiça do Estado. Um recurso foi então interposto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para analisar a legalidade da prisão. "O que a defesa entende que já é excessiva esse tempo todo que os policiais ficam presos sem sequer terem sido ouvidos", completou o advogado.
Policiais entravam em comunidade em Fortaleza para receber propina, diz MP
TV Verdes Mares/Reprodução
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